Os pneus run flat, ou “pneus que podem rodar vazios”, são cada vez mais comuns em marcas premium, como BMW e Mercedes-Benz, mas também chegam a equipar carros mais baratos, como o Ford EcoSport Titanium.
A tecnologia permite que esses pneus rodem furados por aproximadamente 80 quilômetros de distância e a uma velocidade de até 80 km/h. Esses números podem variar de acordo com a fabricante, mas as médias mais comuns são essas.
A vantagem está na segurança de rodar em velocidade razoável e, assim, ter a possibilidade de encontrar um lugar seguro para fazer a troca ou o reparo, já que esses carros não possuem estepe.
Apesar de terem se popularizado nos últimos anos, ainda há uma série de dúvidas e polêmicas sobre a funcionalidade dos pneus run flat. Por isso alguns proprietários fazem a troca deles por componentes convencionais.
Autoesporte entrou em contato com profissionais da área de pneus para entender o que muda na segurança do veículo caso o proprietário troque seu run flat por um convencional.
Em um pneu comum, o ar comprimido no interior é responsável por sustentar o peso do automóvel. Quando ele fura e o ar escapa, as laterais dobram até os aros da roda tocarem na banda de rodagem. Quando isso acontece, o pneu chega ao chão e não há mais condições de rodagem.
O ar também sustenta o peso nos pneus run flat, que possuem laterais e ombros reforçados. Mas eles rodam mesmo que estejam sem ar pois são feitos de um composto de borracha, cabos de aço e elementos de ligação bem mais resistentes. O talão de fixação na roda também é reforçado.
Em contrapartida, os materiais de sua composição os tornam mais duros que os convencionais. É uma má notícia para quem não abre mão do conforto, pois é muito mais fácil sentir as saliências e as imperfeições do solo, as famosas “batidas secas”. Os níveis de vibração e ruído também podem ser maiores.
Além de tudo, há uma grande diferença de preço entre pneus run flat e convencionais: são, em média, de 20% a 40% mais caros. Para muitos esses motivos são suficientes para fazer a substituição.
Mas quem faz isso coloca a própria segurança em risco – e não só na hora de trocar o pneu.
“Se a gente pensar em pneu, seja ele convencional, simétrico, assimétrico ou qualquer outro, a qualidade de dirigibilidade é alterada porque a deformação muda entre eles. Um carro com pneu run flat já foi projetado, equilibrado e preparado para receber essas condições de deformação, porque ele é mais rígido, com os ombros mais duros que dão mais sustentação”, explica Carlos Rodrigues, engenheiro especialista em dinâmica automotiva e professor da Fundação Educacional Inaciana (FEI-SP).
Rodrigues diz que os pneus são peças-chave para uma série de fatores relacionados à dirigibilidade do carro, então isso muda ao alterar o componente original.
“Trocar o run flat por outro com as mesmas características dimensionais, mesmo que a roda também seja substituída para fazer uma adaptação, altera o comportamento do veículo, uma vez que ele foi projetado justamente para ter esse tipo de componente” esclarece.
Fabio Magliano, gerente de produtos Car e Motorsport da Pirelli para a América Latina, reforça que o proprietário a troca não deve ser feita justamente porque o carro saiu de fábrica calibrado e projetado para ter aquele tipo de pneu.
Independentemente do veículo, é importante saber qual pneu é indicado pela fabricante. Antes de qualquer mudança, o ideal é passar por uma consultoria.
“Toda a dinâmica da suspensão e o funcionamento do carro que tem run flat foram desenvolvidos para receber somente aquele pneu. Portanto se o veículo sai de fábrica com run flat, assim deve permanecer por toda sua vida útil. Com uma eventual troca haverá uma mudança de comportamento e dinâmica originais. Isso é bem perigoso e pode causar acidentes”, afirma.
Magliano diz que quando o run flat fura e percorre os 80 km antes de fazer a troca perde menos pressão que um pneu convencional. Então, ao chegar na oficina, ele deve ser trocado – e não reparado – porque já sofreu danos estruturais durante o percurso, perdendo sua funcionalidade.
Por mais que sua participação de mercado tenha crescido nos últimos anos, muito locais ainda não têm estoque de pneus run flat, principalmente em oficinas e borracharias em estradas.
Nesse caso, o gerente da Pirelli diz que se o proprietário não encontrar um pneu run flat para fazer a substituição imediata, o melhor é acionar o seguro e solicitar um guincho ou pedir o envio de uma unidade até o local.
Caso não seja possível recorrer ao seguro, o ideal é colocar um pneu com características mais próximas possíveis ao original e seguir para o local mais próximo que permita a substituição correta.
Fonte: Auto Esporte